
Obras literárias que ajudam você a conhecer a capital baiana sem sair de casa
Jorge Gauthier
Além de trazerem conhecimentos e informações, os livros nos transportam para outros lugares e universos. Através deles, inclusive, a primeira capital do Brasil, fundada em 29 de março de 1549, ficou conhecida em todo o mundo.
Pensando nisso, separamos 10 livros históricos que se aprofundam sobre a história de Salvador para você ler de graça nessa quarentena. Quando isso tudo passar, você poderá vir conhecer Salvador – ou revisitar nossa cidade – ainda mais rico de informações e curiosidades sobre a terra do dendê, conhecida internacionalmente por suas belezas naturais, pelos sabores e sons, e pelo sincretismo religioso da população calorosa. Também não faltam, desde sua existência, histórias de superação e resistência. Boa leitura!
1 ● O Centro da Cidade Salvador, de Milton Santos (1958)

A obra “O Centro da Cidade do Salvador”, escrita por Milton Santos, um clássico da Geografia, foi apresentada à Universidade de Strasbourg, em 1958, como tese de doutorado do professor. Nela, Santos mostra a Geografia como uma ciência que, além de espacial, também é temporal.
O livro traz uma rica associação entre as histórias de Salvador e os eventos da década de 1950, além de explicar as múltiplas funções numa cidade em processo acelerado de transformação. O autor analisa a paisagem da capital baiana a partir da interação entre o sítio da cidade, o ambiente construído e as dinâmicas sociais, e revela as desigualdades na apropriação do espaço soteropolitano pelas diferentes classes sociais.
O livro tornou-se um marco do início da renovação dos estudos geográficos, que passaram a incorporar as relações sociais como componentes indissociáveis do meio físico. Milton Santos também expande sua análise ao Recôncavo Baiano e ao estado da Bahia, bem como busca as escalas nacional e mundial, descrevendo os fenômenos da urbanização e metropolização.
2 ● Bahia de Todos os Santos – Guia das Ruas e dos Mistérios da Cidade do Salvador, de Jorge Amado (1945)

“A Bahia te espera para sua festa mais quotidiana. Teus olhos se encharcarão de pitoresco, mas se entristecerão também ante a miséria que sobra nestas ruas coloniais onde começam a subir, magros e feios, os arranha-céus modernos.”
O trecho acima, do livro “Bahia de Todos os Santos – Guia das Ruas e dos Mistérios da Cidade do Salvador”, convida o leitor a conhecer a capital baiana, compreender belezas e contrastes da cidade e se apaixonar pela ”cidade da Bahia”.
Na publicação, Jorge Amado, um dos responsáveis por projetar belezas e mistérios do povo baiano para o mundo, mostra ao leitor um pouco das ruas, costumes, segredos, personalidades, gastronomia, religião, festas, praias, entre outros aspectos e locais pertencentes à cidade e ao povo. Com requinte e simplicidade do autor, “Bahia de Todos os Santos” é um roteiro da cidade da Bahia, Salvador.
O guia foi atualizado diversas vezes, por conta do crescimento da cidade, mas não perdeu sua essência. Apesar de mudanças, o escritor retrata no livro o espírito do baiano que ainda é possível perceber nos dias atuais. Em “Bahia de Todos os Santos”, Jorge ainda destaca a música do amigo, também baiano, Dorival Caymmi: “Você já foi à Bahia, nêga? Não! Então vá…”.
3 ● Os Nomes das Ruas Contam Histórias, de Luiz Eduardo Dórea (1999)

Os nomes de ruas, avenidas, becos e ladeiras são tão importantes e carregam tantos significados que podem resgatar parte importante da memória de Salvador. Essa é a premissa do livro “Os Nomes das Ruas Contam Histórias”, escrito pelo jornalista e pesquisador Luiz Eduardo Dórea.
A obra, publicada em 1999, conta a história de Salvador através de seus logradouros. O autor mostra o significado e a origem de diversas ruas da cidade, revelando ao leitor o encanto e beleza que delineiam a trajetória da primeira capital do país.
Afinal, quem nunca se perguntou porque a Avenida Luís Viana Filho é chamada de Paralela? E porque uma pequena rua próxima ao Largo Dois de Julho se chama Rua do Cabeça? Essas e outras questões são respondidas no livro.
4 ● O samba na roda: samba e cultura popular em Salvador 1937-1954, de Alessandra Carvalho da Cruz (2006)

Alessandra Carvalho da Cruz reflete, na sua dissertação de mestrado, sobre a importância do samba na elaboração dos principais projetos de identidade nacional que estavam sendo produzidos no contexto das décadas 1930 e 1950 em Salvador.
Isso tudo é mostrado através das páginas da revista Cultura Política, no plano nacional, e no contexto específico da cidade, nas críticas contra “sambas e outras monstruosidades”, de Pinto de Carvalho e Pedro Calmon, e na produção etnográfica de Édison Carneiro.
A partir daí, ela descreve também a importância histórica da cultura popular autônoma, que estava expressada nas rodas e nas canções de figuras como Batatinha e Riachão.
5 ● Um Grito de Liberdade – O processo de democratização do Esporte Clube Bahia, de Fernanda Varela (2015)

O livro “Um Grito de Liberdade – O processo de democratização do Esporte Clube Bahia”, escrito pela jornalista Fernanda Varela, narra a história do processo de democratização do time de futebol tricolor do ponto de vista de quem a viveu.
A obra conta com entrevistas e depoimentos de personagens fundamentais para entender o momento pelo qual o clube passou, como Carlos Rátis, Jorge Maia, Sidônio Palmeira, Fernando Schmid, o ex-presidente Marcelo Guimarães Filho e outros. Atletas que estavam no Bahia na época da intervenção, como o zagueiro Titi e o volante Fahel, também foram ouvidos.
O ponto de partida do livro é o dia em que o torcedor Jorge Maia entrou na Justiça contra o Bahia, solicitando a intervenção, até o dia em que Fernando Schmidt foi eleito presidente do Bahia, em 2013.
6 ● O Largo da Palma, de Adonias Filho (1981)

A obra “O Largo da Palma” é composta por seis novelas do escritor baiano Adonias Filho: A moça dos pãezinhos de queijo; O largo de branco; Um avô muito velho; Um corpo sem nome; Os enforcados; e A pedra. Situando suas tramas nos arredores do largo que dá nome ao livro, Adonias mistura o sagrado e o profano, o urbano e o rural, o erudito e o popular, trazendo também locais não-fictícios, como a Igreja da Palma, o Mercado Modelo, o Jardim de Nazaré e outras referências espaciais.
No livro, o escritor dá o foco à classe média-baixa – personagens que, apesar de fictícios, podem ser hoje encontrados no local, incluindo os idosos, mendigos e imigrantes.
Desta forma, mesmo trazendo contos, “O Largo da Palma”, presente no calmo bairro da Mouraria, é retratado quase de forma fidedigna na obra. O escritor também faz uma humanização do local, como por exemplo a igreja que era “humilde e enrugadinha” e que testemunhava tudo o que ali acontecia; ou então as “ruas pequenas e estreitas tentam se ocultar como envergonhadas”.
7 ● A cidade de Salvador, dos idos de 1959: os olhares de Jorge Amado e Milton Santos, de Adriano Bittencourt Andrade (2004)

Dois baianos e duas obras importantes para a literatura brasileira norteiam a tese escrita por Adriano Bittencourt Andrade, que traz uma análise histórico-geográfica da Salvador entre os anos 1950 e 1960.
O autor usa como base os livros publicados no mesmo ano: “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água” (1959), de Jorge Amado, e “O Centro da Cidade de Salvador” (1959), de Milton Santos. Na obra, ele explica que, apesar de serem obras de ficção, os livros trazem, no seu bojo, informações e “leituras” do cotidiano de uma cidade que raramente são abordadas nos livros científicos.
Ou seja, além de mostrar nexos entre a produção dos dois baianos, o autor mostra que as obras possibilitam ao leitor compreender melhor a conjuntura da época, entendendo a estrutura social e econômica de Salvador antes das densas transformações das últimas décadas do século XX.
8 ● Através da Bahia, de Von Spix e Von Martius (1938)

Em 1817, o zoólogo Johann Baptist Spix, 36 anos, e o botânico Carl Friedrich Phillip Martius, 23, chegaram ao Brasil de carona na comitiva da princesa Maria Leopoldina, futura imperatriz do Brasil, com a missão, dada pelo rei da Baviera, de coletar o máximo de amostras da fauna e flora do Brasil.
Após 14 mil quilômetros percorridos no território brasileiro em três anos de pesquisa, passando por Minas Gerais até a fronteira com Goiás e com a Bahia, os bávaros enfrentaram de tudo – seca, inundações e todo tipo de doença – e voltaram para a Europa com cerca de 9 mil espécies de plantas e animais, incluindo mamíferos, aves e anfíbios, muitos deles de Salvador.
Spix morreu pouco tempo depois da viagem, abatido por doenças que enfrentou na excursão. Martius, por outro lado, viveu até os 74 anos. Até o fim da vida, Martius se dedicou a organizar e publicar o que descobriu no Brasil.
No livro “Através da Bahia”, os pesquisadores mostram o que viram no estado, principalmente em Salvador, no período em que estiveram aqui. Descrevem alguns movimentos que foram importantes para independência nacional e relatam quando a cidade do Salvador, que deixou de ser o centro do Governo, entretanto, não perdeu sua importância de porto comercial de primeira ordem.
9 ● História do Brasil, de Afrânio Peixoto (1944)

Criado no interior da Bahia, o médico, político, professor, romancista e historiador brasileiro Afrânio Peixoto (1876 – 1947) veio ainda novo para Salvador. Na capital baiana, formou-se em Medicina, em 1897, na Faculdade de Medicina da Bahia, fundada em 1808. A cidade, então, foi cenário de boa parte de seus livros.
Na obra “História do Brasil”, Afrânio traz um panorama histórico desde a civilização mediterrânea até a República no Brasil. O livro, então, conta em detalhes como foi o governo geral de Tomé de Sousa, que chegou à Baía de Todos os Santos e fundou a Cidade do Salvador em 28 de março de 1549.
Nota-se, ao longo do volume, diversas semelhanças e diferenças em comparação à Salvador atual, incluindo os nomes dos bairros, que antes eram povoados, mas que existem até hoje.
Link para ler.
Audiolivro neste link.
10 ● História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador (1918)

O livro “História do Brasil”, escrito pelo Frei Vicente do Salvador (1564-c.1636-1639), tem informações históricas sobre Salvador, que foi a sede da primeira colônia portuguesa na América desde a chegada dos portugueses até a época do governo de Diogo Luís de Oliveira. Traça também um panorama do território, com sua flora e fauna, comentando sobre seu clima e geografia, além de mostrar características e impressões sobre os nativos, seu jeito de falar e costumes.
Os primeiros capítulos descrevem a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral e narram a primeira organização da colonização. No volume, o Frei Vicente também mostra episódios de seus primeiros governadores, a formação da administração em Salvador, explicando o sistema dos governos-gerais e das capitanias hereditárias; as entradas para o sertão e as guerras contra o gentio; as fortalezas e táticas militares; a invasão holandesa; dentre outros eventos históricos. Escreve, ainda – de maneira por vezes poética e lírica –, especificidades da lavoura de Salvador na época.
Na obra, o Frei traz opiniões ousadas como, por exemplo, na conhecida afirmação de que os colonos deviam aventurar-se pelo interior do Brasil, pois “sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos”.