10 motivos para assistir “Fevereiros”, um filme sobre Maria Bethânia

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Fevereiros. Maria Bethania. Desfile da Mangueira. Foto: divulgação

O carnaval da Mangueira em homenagem a Maria Bethânia e uma viagem entre Rio e Bahia.

Acaba de entrar em cartaz o longa que acompanhou Maria Bethânia do Rio de Janeiro, com o vitorioso desfile da Mangueira em sua homenagem, até Santo Amaro, sua cidade natal. “Fevereiros”, do diretor Marcio Debellian, teve pré-estreia em Salvador e exibição em praça aberta em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, terra natal de Maria Bethânia e de Caetano Veloso. A cidade ganhou destaque no filme em cenas que mostram o ambiente familiar, religioso e as festas que marcaram a vida da cantora, além de abordar questões históricas como o surgimento do samba, tolerância religiosa e racismo.

Alguns assistem a um filme pelo assunto que ele aborda, outros prestam mais atenção na estética, na trilha, na montagem. Tem aqueles que vão pelos personagens ou pelos atores, pelo diretor e até pelos prêmios que a obra cinematográfica ganhou. Em se tratando do filme-documental “Fevereiros”, prepara-se para colocá-lo em várias ou em todas essas categorias.] Definitivamente, a trajetória de Maria Bethânia através da homenagem feita pela Mangueira no carnaval de 2016 vai entrar para sua lista dos top documentários prediletos.

1 – O Universo que inspirou o enredo

Fevereiros. Maria Bethania. Foto: divulgação.

Maria Bethânia, exuberante, no recorte preferido de sua história: vivendo o mês de fevereiro intensamente; O ambiente familiar dos Veloso; Os encantos de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. A delicadeza em compartilhar aquelas vivências nos faz sentir o “cheiro da cana-de-açúcar” de outrora que ainda paira, dando uma vontade de ir conhecer Santo Amaro e suas Festas Populares imediatamente, assim como se entregar aos muitos carnavais da cantora, do samba de roda e de enredo.

“O Recôncavo baiano, região onde Bethânia nasceu, tem a particularidade de ter sido o lugar no Brasil que mais recebeu negros escravizados trazidos da África. A Bahia soube misturar as tradições africanas, indígenas e portuguesas e transformá-las em expressões originais brasileiras em relação à música, religião e festas populares. Esses aspectos vão sendo apresentados no filme conforme nos aproximamos de Santo Amaro e acompanhamos a construção do carnaval da Mangueira”, explica Debellian.

2 – Estação Primeira de Mangueira

Fevereiros. Maria Bethania. Desfile da Mangueira. Foto: divulgação

A escola de samba mais popular do país abre as portas da sua “fábrica de sonhos”. O filme mostra a construção do carnaval da Mangueira em 2016 – desde os desenhos das primeiras alegorias aos desfiles na avenida. O dia a dia no barracão, os ensaios, desfiles de outros anos, depoimentos emocionantes. O coração vem na boca o tempo todo e, para quem ama carnaval, a vontade é que ele nunca tenha fim. Para os espectadores que foram aos ensaios ou ao desfile daquele ano, vão ter momentos de tentar se achar na tela só para sentir aquela magia momesca novamente.

3 – Tolerância e sincretismo religioso

Fevereiros. Caetano Veloso. Foto: Divulgação.

A ligação ímpar da família Veloso com a religião católica e o candomblé. A dualidade do medo e da alegria, da curiosidade da cantora na infância e entendimento do seu caminho de fé. Os relatos sobre as Mães de Santo, Mãe Menininha e Edith do Prato. Maria Bethânia transita nas duas religiões com delicadeza e maestria, sem preconceitos, sem barreiras, mas com carinho e muita dedicação.

“O que me interessou desde o início, independente do resultado que o carnaval (de 2016) viria a ter, foi o recorte que a Mangueira escolheu para o enredo. Entre as inúmeras possibilidades de se homenagear Maria Bethânia, a escola escolheu tratar da sua devoção religiosa, do seu sincretismo pessoal que junta o candomblé, devoção católica e sabedorias herdadas dos índios”, lembra o diretor Marcio Debellian.

4 – Surgimento do Samba

Neste filme, os amantes do samba vão querer anotar os nomes dos entrevistados e dos personagens para se aprofundar nos assuntos. O longa toca em assuntos que se entrelaçam, como tolerância religiosa e o surgimento do samba, partindo da história da própria Estação Primeira de Mangueira ter o seu nascimento em um terreiro. Luis Antonio Simas, historiador, conta sobre a importância da “Ala das Baianas” nos desfiles de Escola de Samba do Rio, e sobre o “Laço de sociabilidade” – A ideia que sem a comunidade não se sobrevive. O longa conta também sobre João Machado Guedes, conhecido como João da Baiana, compositor popular, cantor, passista e instrumentista. João da Baiana é tido como o introdutor do pandeiro no samba.

5 – Festas que marcaram a vida de Bethânia

Fevereiros. Maria Bethania. Festa de N.Sra. da Purificação. Foto: divulgação.

O longa só poderia ter mesmo este nome. O mês de fevereiro tem uma importância na vida de Maria Bethânia como o ar que ela respira. É lindo ver sua comoção ao participar da Festa de Nossa Senhora da Purificação. A cada 2 de fevereiro, comemora-se a festa da Purificação ou das Candeias (Luz). É o dia da bênção das velas (candeias) e em muitas igrejas de Santo Amaro, antes da celebração da Santa Missa, são organizadas procissões solenes que caminham pela cidade.

Outra celebração mostrada no filme é a Festa do Bembé do Mercado, no dia 13 de maio. Esta comemora a data da abolição da escravatura, dia de “Saudar Isabel”. O Bembé do Mercado, que teve a sua primeira edição em 1889, é considerado o maior candomblé de rua do mundo, reunindo mais de 40 terreiros do território do recôncavo para celebrar no barracão do Mercado de Santo Amaro.

6 – Prêmios

Para quem adora assistir a um filme premiado, Fevereiros já rodou 29 festivais de cinema pelo mundo, passando por países como Canadá, França, Rússia, Suíça, Espanha, Itália, Chile, Uruguai, Congo e Senegal. O documentário recebeu o prêmio de Melhor Filme no 10º IN-Edit Brasil e a Menção Honrosa do Júri na competitiva Ibero-americana do 36º Festival Internacional do Uruguai.

7 – Sabedorias e muito amor

Segundo o diretor, o filme valoriza os humanos, reconecta e afirma um Brasil que é forte. Um país alegre que conjuga fé com festa, que é tolerante, que tem na sua miscigenação a sua maior originalidade.

“… estão tentando que o Brasil vire de costas para si mesmo, colocando isso tudo em um lugar inferior. (…) Isso aqui existe. O filme é uma afirmação. Ele tem sabedorias e muito amor”, diz Debellian.

8 – Depoimentos e Participações

Fevereiros. Maria Bethania e Chico Buarque. Foto: divulgação

E não poderia faltar a fala de amigos e familiares, pessoas que escreveram essa história juntos. O filme conta com depoimentos de Maria Bethânia, Caetano Veloso, Chico Buarque, do carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, do historiador Luiz Antonio Simas, da poeta Mabel Velloso, irmã de Bethânia, e do porta-bandeira da Mangueira, Squel Jorgea. Participações de: Pai Pote, Squel Jorgea, Pai Gilson, Julia Basbaum e Nina Basbaum.

9 – Trilha sonora emocionante

A trilha é praticamente um personagem à parte, é texto. Músicas que vão contando grande parte da história. Vale ouvir a trilha no Spotify. Tem pérolas como Yaô, de Pixinguinha; Clementina de Jesus e João da Baiana; Não me deixaste ir ao samba, de Carlos Cachaça; 13 de Maio, de Caetano Veloso; É D’Oxum, de Geronimo Santana; Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu, de Jamelão; e, claro, o samba de 2016 da Mangueira, Maria Bethânia, A Menina dos Olhos de Oyá, de Ciganerey e Maria Bethânia.

10 – Imagens garimpadas

O filme mostra imagens antigas da família Veloso, de Santo Amaro, de Maria Bethânia participando das festas ainda jovem, ao lado de Dona Canô, Caetano e Mabel Velloso. Também tem trechos de conversas quando Chico Buarque e Bethânia ainda eram bem jovens onde ela conta para Chico sobre um dos muitos mitos do candomblé.

Preparamos uma lista com músicas perfeitas para esta experiência. Ouça agora!

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