Capela da Beata Lindalva Justo

R. do Salete, 47 - Barris, Salvador - BA, 40070-200
História e Cultura
01/02

Conheça a história da primeira mulher a ser beatificada no Brasil

A Escola Nossa Senhora do Salette, hoje instituto, foi uma das primeiras edificações do bairro dos Barris, em 1858. Ali, numa capela, estão depositadas as relíquias da Beata Lindalva Justo, religiosa que sofreu o martírio em 1993. Irmã Lindalva foi a primeira mulher a ser beatificada no Brasil. Ocorreu no dia 2 de dezembro de 2007 – antes, inclusive, de Irmã Dulce, que aconteceu em 2010.

Nascida em Açu (RN), irmã Lindalva veio para Salvador trabalhar no Asilo Dom Pedro II. Ela era ainda uma jovem Filha da Caridade, com 4 anos de vocação, quando sofreu o martírio. Ela morreu em 1993, vítima de feminicídio*, enquanto distribuía café da manhã aos internos do Abrigo Dom Pedro II, que ainda funcionava na Boa Viagem. Foi morta por um interno que, apaixonado pela irmã, passou a assediá-la e não aceitou o fato de não ser correspondido por ela. Sua fidelidade à vocação e seu amor a todas as pessoas, sem preferências, eram tão intensos que ela não hesitou em entregar sua vida por eles.

“Prefiro que meu sangue se derrame, do que ir embora”, respondeu Irmã Lindalva, quando lhe perguntaram por que não deixava o abrigo, mesmo depois dos assédios de seu agressor.

Beatificação por martírio

Segundo a Igreja Católica, martírio é uma morte pela fé – o que permitiu que a Beata Lindalva Justo de Oliveira fosse beatificada sem a comprovação de um milagre. A beatificação é a primeira etapa do processo de canonização. Em casos como o de Irmã Dulce, por exemplo, quando é uma canonização por virtudes, até para a beatificação é preciso ter um milagre.

Para a Igreja, o próprio contexto da morte de Irmã Lindalva tem outros elementos de martírio. Dois fatos unem a morte da bem-aventurada Lindalva Justo com a de Jesus. Ela foi assassinada em uma Sexta-feira da Paixão, no dia 9 de abril de 1993. Os legistas que fizeram a autópsia no corpo da Irmã encontraram 44 perfurações; o número é a soma dos 39 açoites e cinco chagas do corpo de Jesus.

Para a canonização da Bem Aventurada, é necessária a comprovação de um milagre que tenha acontecido após a beatificação. No caso da beata Lindalva, já existe um episódio sendo analisado pelo Vaticano. O dia da Beata Lindalva é comemorado em 7 de janeiro, data em que foi batizada.

Capela das Relíquias da Beata Lindalva

Por guardar as relíquias de uma mártir católica, a Capela das Relíquias da Beata Lindalva é um importante centro de devoção e recebe diariamente a visita de muitas pessoas. Localiza-se ao lado da igreja do Instituto Nossa Senhora da Salette, administrado pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, no bairro dos Barris, região central da capital baiana. Fica a poucos metros do Santuário de Exposição e Adoração Perpétua ao Santíssimo Sacramento, a Igreja e Convento de São Raimundo. Os restos mortais estão ali depositados desde 6 de abril do ano de 2014.

Mas, quem foi a Irmã Lindalva?

A Beata Lindalva Justo de Oliveira nasceu em 20 de outubro de 1953, no povoado Sítio da Areia, no Rio Grande do Norte, no município de Açu. Lindalva foi a sexta filha de uma família formada por 14 irmãos e, ainda jovem, recebeu dos pais os ensinamentos da doutrina e da fé cristã. Com o pai, João Justo da Fé, Lindalva estudava as Sagradas Escrituras e participava da Santa Missa. Com a mãe, Maria Lúcia da Fé, aprendeu a cuidar de crianças, ajudar os pobres e realizar as tarefas da casa, sem deixar de lado os estudos.

A jovem sempre teve muito amor aos pobres e dedicação à Igreja. Lindalva foi batizada em 7 de janeiro de 1954 e recebeu a Primeira Eucaristia aos 12 anos. Ao finalizar o Ensino Fundamental, Lindalva trabalhou como babá e, em 1971, mudou-se para Natal, no Rio Grande do Norte, para morar com a família de um de seus irmãos.

Vida Religiosa

Na adolescência, Lindalva participava de atividades na Igreja, mas ainda não havia decidido pela Vida Religiosa, que foi despertada quando ela ainda morava em Natal, através do convite de uma amiga chamada Conceição. Foi através dos encontros abertos que Lindalva conheceu as Filhas da Caridade.

Irmã Lindalva foi admitida à Congregação no dia 16 de julho de 1989, em uma missa celebrada por Dom Hélder Câmara. Um mês depois, ela e Conceição participaram do encontro vocacional. A conclusão do noviciado foi em 26 de janeiro de 1991. Como de costume, ao término deste período, as Irmãs são enviadas para missão: Irmã Lindalva foi enviada para o abrigo Dom Pedro II, em Salvador, na Bahia, onde assumiu o ofício de coordenadora do pavilhão de idosos.

Martírio e Beatificação

No Dom Pedro II, a Irmã cuidava dos idosos com muito amor, dedicação e alegria, sempre cantando e rezando o terço com eles. Suas ações de caridade não se restringiam apenas ao abrigo. Ela também participou do Movimento Voluntárias da Caridade, do núcleo da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, onde visitava idosos e doentes nas periferias.

Em janeiro de 1993, uma recomendação política permitiu que Augusto da Silva Peixoto, aos 46 anos (o homem que viria a cometer o assassinato), conseguisse ter comida e moradia no abrigo, no qual era necessário ter uma declaração de abandono, por parte da assistência social, e uma idade mínima de 66 anos. Augusto se apaixonou pela Irmã Lindalva, que sempre deixou claro que não poderia corresponder aos sentimentos dele. Mesmo assim, os assédios prosseguiram.

A Irmã procurou a diretora do setor social e pediu que chamasse atenção do homem, mas, sem contar sobre suas indiretas indecentes, apenas sobre seus comportamentos inadequados em relação às regras do abrigo, acreditando que isso seria suficiente para fazê-lo parar. Mas, ao contrário do que era esperado, só fez aumentar o ressentimento dele, por não ser correspondido.

O martírio aconteceu no dia 9 de abril de 1993. Era Sexta-feira Santa, e a Irmã havia participado da Via Sacra, que teve início às 4h30. Em seguida, voltou ao abrigo para servir o café aos idosos. Quando estava atrás do balcão onde ficavam os alimentos, foi surpreendida com um toque nas costas. Ao virar, recebeu uma facada mortal na clavícula esquerda. Mesmo caída, continuou tendo o seu corpo perfurado por Augusto. Foram 44 perfurações. O assassino permaneceu no local esperando que a polícia chegasse, e, em depoimento, declarou que havia cometido o crime porque a Irmã Lindalva nunca cedeu aos seus desejos.

No dia 2 de dezembro de 2007, a Irmã Lindalva foi beatificada em cerimônia presidida pelo então Arcebispo de Salvador, Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo – atualmente Arcebispo Emérito -, no estádio do Barradão. Mais de 25 mil fiéis participaram deste importante momento, além dos irmãos e da mãe da bem-aventurada, na época com 85 anos de vida.

Serviço

Endereço: Rua do Salette, 47 – Barris
Telefone: 71 3038-3900
Visitação: a Capela do Martírio, local onde aconteceu o assassinato da Beata Lindalva Justo de Oliveira, pode ser visitada de segunda a sexta-feira das 8h às 16h. O templo está localizado no antigo Abrigo Dom Pedro II (Avenida Luiz Tarquínio, próximo às Obras Sociais Irmã Dulce (OSID))
História do Instituto neste link.
Feminicídio*: a qualificação do crime de homicídio deste tipo ainda não existia na época de sua morte.

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