A maior manifestação religiosa pública do candomblé no estado da Bahia
Por Fernanda Slama
Iemanjá é uma das festas populares que mais se conectou com a contemporaneidade. Além de ser uma das manifestações populares mais importantes da cidade, vem mantendo a sua força ao longo dos anos e se fortalecendo. A Festa de Iemanjá, no dia 02 de fevereiro, é considerada a maior manifestação religiosa pública do candomblé no estado, sendo uma das festas populares mais intensas e tradicionais da Bahia. Por estes motivos, esta festa popular será tombada como Patrimônio Imaterial de Salvador. Este registro é uma forma de proteger a manifestação cultural e religiosa afro-brasileira.
A festa mais famosa acontece tradicionalmente no bairro do Rio Vermelho, sendo realizada pela Colônia de Pescadores, em parceria com os órgãos públicos e sociedade civil, na Casa de Iemanjá, Mercado do Peso. O local é organizado para que pessoas de toda a cidade venham entregar os presentes para Iemanjá. Hoje em dia, a maioria das pessoas coloca apenas flores, por terem consciência do perigo de jogar no mar as antes clássicas oferendas como pentes, espelhos, sabonetes, perfumes e até joias.
Dicas para celebração inesquecível
Chegue cedo – A Festa do Dia de Iemanjá em Salvador começa na véspera, na noite do dia 1, na Casa de Iemanjá, no Rio Vermelho, na Rua da Paciência. Ver o sol nascer na praia, com os pés na areia, ao som dos tambores da Umbanda e do Candomblé vai fazer seu coração parar. É a hora de transcender. A festa de Iemanjá é a única entre as mais importantes que não é vinculada à uma celebração católica.
Na alvorada, por volta das 4h45 da manhã, a celebração da Festa de Iemanjá começa oficialmente, com fogos de artifício. A fila para deixar oferendas começa a ser formada cedo e dura o dia todo. Na primeira parte da manhã, também é comum ter a presença de Carlinhos Brown e um grupo grande de percussionistas que também participam da festa.
Oferenda e cortejo – Na Casa de Iemanjá, fica a oferenda principal. O ponto alto da festa é a saída dos barcos para entregar esta oferenda à Iemanjá. Isso acontece às 16h, quando os pescadores vão para alto mar em cortejo. A dica é chegar mais cedo e já conseguir um lugar em um barco. Tem vários barqueiros que podem ser contratados ali na hora. Você pode ir no seu tempo, em qualquer horário, ou organizar para sair junto com o cortejo de barcos cheios de balaios de flores.
“Dress Code” – Prefira vestir-se de branco ou azul. Isso é um sinal de que, mesmo que não seja adepto, você respeita os rituais da festa (a gente te explica tudo já, já). Não deixe de levar também um chapéu porque o sol é de matar e quase não tem sombra no rio Vermelho. Imprescindível guardar os pertences com atenção.
Sagrado e profano – Vários grupos de samba, percussão e capoeira passam pela orla durante todo o dia. Essa Festa Típica Popular tem crescido a cada ano, com grade de shows em diversos estabelecimentos. Fiquem ligados nas agendas: rolam festas para todos os lados do bairro!
Locomoção – Deixe o carro em casa. Todo o perímetro do bairro é fechado, já que de uma ponta a outra, bares e restaurantes promovem eventos, além de todas as ruas estarem repletas de pessoas indo e voltando da Casa de Iemanjá. Para quem é de fora, sugerimos que hospede-se próximo à festa.
Sabendo a história tudo vai ficar ainda mais emocionante
Iemanjá é uma divindade de origem africana, a rainha das águas e mares. Seu nome vem de uma expressão em Iorubá que significa ‘Mãe cujos filhos são peixes‘. É um orixá muito respeitado e cultuado e, por isso, a festa em sua homenagem é tão importante.
Segundo o livro Orixás, de Pierre Fatumbi Verger “Iemanjá é uma divindade muito popular no Brasil e em Cuba. Seu axé é assentado sobre pedras marinhas e conchas, guardadas numa porcelana azul. O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado, justamente com outras divindades femininas. Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e vestem-se, de preferência, se azul-claro”.
Ela é descrita como uma bela sereia de cabelos longos e vestido azul. Também chamada de Janaína, Rainha do Mar e Odò Ìyá (Mãe do Rio). É considerada a protetora dos pescadores, jangadeiros e homens que ganham sustento no mar.
Também segundo o livro Orixás, “… as filhas de Iemanjá são voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras, altivas”. Na descrição de seus arquétipos, diz que são mulheres maternais e sérias, que gostam das fazendas azuis e vistosas e das joias caras.
A Festa de Iemanjá em outras partes da cidade
A celebração em reverência à Orixá Iemanjá acontece também em outros pontos da cidade, como o Presente Ecológico do Solar do Unhão (onde só se ofertam flores), que normalmente acontece um final de semana antes da data (em 2023 aconteceu no dia 29 de janeiro, na Comunidade Solar do Unhão, na Avenida Contorno).
Já a famosa Lavagem de Itapuã é comemorada na quinta-feira antes do início do Carnaval de Salvador ( no dia 09 de fevereiro de 2023), onde fiéis e simpatizantes percorrem as ruas do bairro. É feita por baianas vestidas a caráter, que levam potes de cerâmica com flores e água de cheiro para lavarem a escadaria da igreja de Nossa Senhora da Conceição de Itapuã. À tarde é a vez dos blocos de chão fazerem a festa. Grupos culturais vão às ruas celebrar a Rainha do Mar por toda a orla! É lindo de viver!
Para saudar a todos os orixás, muita música! Dê play, aumente o som e cante.
Nota: Livro Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo, de Pierre Fatumbi Verger. 2018, Fundação Pierre Verger.
Por Fernanda Slama
Coordenadora de conteúdo