Há 72 anos, no dia 5 de agosto de 1946, Pierre Verger chegou à Bahia, vindo de navio do Rio de Janeiro. Nesse momento, ele ainda era apenas fotógrafo. Não havia escrito nenhum livro e mal sabia o que era um Orixá. Mas já percorrera os cinco continentes, era apaixonado pela cultura africana e afro-americana, tinha muitos amigos antropólogos, entre os quais Roger Bastide, que o orientou na descoberta da Bahia, e havia lido Jubiabá de Jorge Amado, o que aumentou ainda mais a sua curiosidade.
Verger foi provavelmente o primeiro a fotografar a cultura baiana com tanta sensibilidade e qualidade
Verger teve contato com a cultura africana desde o início dos anos 30. Todavia, foi somente com sua chegada à Bahia que o rumo de sua obra e sua vida mudou. Ao se deparar com a cultura afro-baiana, o outrora fotógrafo livre passou a caminhar exclusivamente nos passos das culturas africanas e afro-americanas. As descobertas do candomblé na Bahia e do Xangô em Recife, atestando a forte presença da cultura africana na Bahia e no Nordeste, incentivaram Verger a voltar para a África. A ajuda de Théodore Monod (então diretor do IFAN em Dakar) favoreceu essa viagem, cujo objetivo era compreender melhor as fortes ligações culturais e históricas entre a Costa do Benin e a Bahia.
Quando descobriu o candomblé, Verger acreditou ter encontrado a fonte da vitalidade do povo baiano e se tornou um estudioso do culto aos Orixás
Esse roteiro fala exatamente desses dois momentos na trajetória de Pierre Fatumbi Verger. Começa em sua casa, que hoje é a Fundação Pierre Verger, passa por duas exposições pela cidade e coleções de objetos de suas viagens, até chegar à Casa de Santo Ilê Axé Axipá. Ali, funcionava o terreiro do saudoso Mestre Didi, amigo e ligado diretamente à história de Verger. A mãe de Didi, Mãe Senhora, foi quem se ofereceu para consagrar a cabeça de Pierre Verger.
Do começo! Criada legalmente em 1988, a Fundação Pierre Verger é o ponto de partida. Ela funciona até hoje na mesma casa em que Pierre Verger viveu durante anos, na Ladeira da Vila América, em Salvador. Gerida por um grupo de amigos, colaboradores e admiradores de Verger, a Fundação cuida da preservação e divulgação de sua obra. Segundo o próprio fotógrafo, “A criação da Fundação Pierre Verger foi a consequência de dois de meus amores: o que sinto pela Bahia e aquele que tenho pela região da África, situada no Golfo de Benin. Ela se propõe, através de seus objetivos e suas atividades, a realçar esta herança comum, oferecendo à Bahia o que ela conhece sobre o Benin e a Nigéria e informar esses países sobre suas influências culturais na Bahia”, conforme explicou no primeiro boletim informativo da FPV.
Objetos de Pierre Verger em seu quarto na Fundação Pierre Verger. Foto: Tacun Lecy.
Poucas pessoas sabem, mas os visitantes podem conhecer, através de uma visita guiada, o quarto, a biblioteca pessoal e o acervo fotográfico de Pierre Verger. Além disso, o Espaço Cultural é um caso à parte, com uma extensa programação para adultos, jovens e crianças. Como fundador, mantenedor e presidente, Verger doou à Fundação todo o seu acervo pessoal, reunido em décadas de viagens e pesquisas. São dezenas de artigos, livros, 62 mil negativos fotográficos, gravações sonoras, filmes em película e vídeo, além de uma coleção preciosa de documentos, fichas, correspondências, manuscritos e objetos. Sensacional!
Da Fundação, vá para o Centro Histórico. Na “porta do Pelourinho”, fica a Galeria Fundação Pierre Verger. O espaço reúne vários aspectos interessantes aos turistas: exposições supercompletas de diversos temas que permeiam à obra de Pierre Fatumbi Verger, excelentes coletâneas de publicações tanto de Verger como outras relacionadas aos temas fotografados e estudados por ele, além da linha completa de produtos. Inclusive, lá está à venda a mais nova edição do seu livro ‘Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo’. Em exibição até novembro de 2018, a exposição ”Cheguei na Bahia”, é uma carinhosa coletânea de imagens da “Velha Bahia” de quando o fotografo Francês chegou por aqui.
A obra, os livros e produtos na Galeria Fundação Pierre Verger, com a exposição ”Cheguei na Bahia”
Em todos esses anos de viagens entre Brasil e África, Verger acabou colecionando muitos objetos dos dois países. Esses objetos – que contam bastante esta relação entre os “dois mundos” – está guardada e aberta à visitação também no Pelourinho. A Casa do Benin tem um acervo composto por cerca de 200 peças originárias do Golfo do Benin, colecionadas por ele ao longo de suas expedições à África, além de salas de exposição, miniauditório e sala multiuso. Também possui peças relacionadas à cultura afrodiaspórica, doadas por artistas e instituições. Saiba mais, neste link.
Conexão Brasil x África
Neste momento você deve estar com bastante fome, certo? Então continue caminhando em direção ao Santo Antônio Além do Carmo até o restaurante Zanzibar. Essa é uma deliciosa experiência gastronômica que transita entre África e Brasil. A casa tem menu inspirado no Benin, na África. Experimente a batida de gengibre com cachaça, casquinha de aratu com farofa, camarão ao molho de castanha, entre muitas outras maravilhas. Saiba mais, neste link.
Afro-brasilidade com vista para a Baía de Todos os Santos!
Para finalizar o dia, vá para o Porto da Barra. Lá está o Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana, projeto dedicado à valorização, reconhecimento e divulgação da fotografia baiana. Além do legado do etnólogo e fotógrafo franco-baiano Pierre Verger, tem também o trabalho de mais 60 fotógrafos que tenham nascido ou fixado residência na Bahia. E mais: diariamente, das 18h15 às 19h, imagens do acervo são projetadas na técnica de vídeo mapping na fachada do Forte. Termine seu dia com um pôr do sol incrível, acompanhado de uma linda projeção.
Faça o tour virtual 360° da trajetória do fotógrafo Francês. É uma aula de história.
No dia seguinte, bem cedinho, vá à Casa de Santo Ilê Axé Axipá. A Fundação Pierre Verger completa 30 anos este ano e uma das principais ações é a reconexão, reestabelecer os diálogos entre a Instituição e os espaços sagrados africanos e afro-brasileiros. Uma reverência ao que Verger dedicou boa parte da vida fazendo: revelando essas conexões entre África e Bahia.
Para isso, estão sendo doadas fotografias de Pierre Fatumbi Verger a Templos Religiosos de Matriz Africana. O Ilê Axé Axipá, foi o primeiro a receber as obras, que já estão expostas dentro do espaço consagrado aos Babás Eguns e disponíveis para apreciação dos membros da casa, da comunidade local e dos visitantes do Axipá. Vale a visita, é emocionante.
Serviço
Fundação Pierre Verger
Funcionamento: de segunda a sexta feira, das 8h às 12h/ 13h às 17h
Endereço: Ladeira da Vila América, 18, Engenho Velho de Brotas, Salvador – BA, 40.243-340. Acesso pela Av. Vasco da Gama.
Telefone: (71) 3203-8400
Gratuito.
Galeria da Fundação Pierre Verger
Funcionamento: de segunda a sexta, das 9h às 18h. Sábados, das 9h às 17h.
Endereço: Portal da Misericórdia, nº 9, Loja 1, Centro Histórico – Salvador.
Telefone: (71) 3321 2341
Gratuito.
Casa do Benin
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
Endereço: Baixa dos Sapateiros, 7 – Pelourinho, Salvador-BA, 40025-005
A entrada custa R$ 4,00.
Telefone: (71) 3202-7890
Zanzibar Restaurante
Funcionamento: de quinta a sábado, de 12h às 23h. Domingos, de 12h às 18h.
Endereço: Rua Direita de Santo Antônio, 60, Santo Antônio, Salvador. Ao lado da Igreja do Boqueirão.
Telefone : 71 982263750.
Importante: melhor reservar antes. Sujeito a lotação.
Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana
Funcionamento: de quarta a segunda, das 11h às 19h.
Endereço: Forte de Santa Maria, Porto da Barra, Salvador.
Importante: entrada válida também para visita ao Carybé de Artes (Forte de São Diogo).
Ingresso: entrada: R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia).
Casa de Santo Ilê Axé Axipá
Endereço: Rua Asipá, 472, Piatã (acesso pela Av. Orlando Gomes).
Mais informações, neste link.
Importante: entre em contato antes de ir.